O ballet clássico sempre busca a manutenção da tradição, da rigidez de movimentos e da exigência técnica e, para isso, há uma exigência corporal intensa distante da realidade anatômica e fisiológica de alguns dançarinos. Suas performances requerem um treinamento mais árduo e maior eficiência do sistema músculo esquelético por parte dos dançarinos.
O ballet sobrecarrega especialmente os membros inferiores, aumentando a predisposição para lesões. O treinamento exaustivo que envolve as articulações em posições excessivas, geralmente, é composto por exercícios de aquecimento, alongamento, flexibilidade, quedas, saltos, equilíbrio, amplitudes exageradas de movimento, forças dinâmica, estática e explosiva, giros, trabalho sobre sapatilha de ponta, resistência aeróbica, anaeróbica, entre outros, tudo para buscar o sincronismo perfeito e a técnica apurada, exigências que levam os dançantes ao limite do que é suportável pelos mecanismos fisiológicos.
Embora se tenha conhecimento de que a dança contribui para a melhora do desempenho motor, a modalidade é comprometida quando, em busca da técnica perfeita, utiliza técnicas ortodoxas específicas, sem preocupação com a coordenação geral do indivíduo, desrespeitando a faixa etária ou provocando movimentos e atitudes estereotipadas.
Vários são os fatores que contribuem para o surgimento de lesões em bailarinos clássicos, podendo ser divididos em extrínsecos (como calçados, piso e temperatura inadequados) e intrínsecos (como encurtamento muscular, hipermobilidade, fraqueza muscular, dietas inadequadas).
A sapatilha de ponta, associada a movimentos específicos, é mais um motivador de destaque no desenvolvimento de lesões, uma vez que ela não é desenhada a fim de proteger os pés contra estresses físicos.
A combinação de fatores extrínsecos e intrínsecos, associado ao treinamento excessivo, incorreto, mal planejado ou inexistente pode acarretar os mais diversos comprometimentos, como: calo macio, calo duro, bolha, hálux valgus (joanete), hálux rígido, entorses no tornozelo, fratura de estresse no tornozelo, sesamoidite, bursite no tornozelo e joelhos, neuroma de Morton, tendinites (região do pé, tornozelo, joelhos e quadril), laceração do menisco, luxação e subluxação do tornozelo e da patela, contusões, lesão ligamentar, abrasão, quadril estalante, artrite degenerativa no quadril, lombalgia, espondilolistese degenerativa, espondilólise e radiculopatia lombar (dor no ciático).
As lesões de tornozelo e/ou pé, frequentes em bailarinos que se dedicam várias horas por dia ao ballet, podem incidir em vários seguimentos da estrutura como nas articulações talocrural e tarsometatarsica, nos músculos da região e nos tendões.
Referências:
SIMÕES, Renata Duarte; DOS ANJOS, Aweliton Fernando Peres. O ballet clássico e as implicações anatômicas e biomecânicas de sua prática para os pés e tornozelos. Conexões, v. 8, n. 2, p. 117-132, 2010.
Comments